Aparições de Fátima
Mensagem Oficial do Segredo de Fátima
- Dúvidas sobre a autenticidade
do que foi divulgado - Uma revelação não oficial
- Consagração da
Rússia -
Imagens
No dia 13 de Maio de 1917, três
crianças (Lúcia de Jesus dos Santos (10 anos), Francisco Marto (9
anos) e Jacinta Marto (7 anos)) afirmaram ter visto "...uma
senhora mais branca que o Sol" sobre uma azinheira de um metro
ou pouco mais de altura, quando apascentavam um pequeno rebanho na
Cova da Iria, freguesia de Aljustrel, pertencente ao conselho de
Vila Nova de Ourém, Portugal.
Lúcia via, ouvia e falava com a aparição, Jacinta via e ouvia e
Francisco apenas via, mas não a ouvia.
As aparições repetiram-se nos cinco meses seguintes e seriam
portadoras de uma mensagem ao mundo. A 13 de Outubro de 1917 a
aparição disse-lhes ser a Nossa Senhora do Rosário.[1]
Os relatos destes acontecimentos foram redigidos pela Irmã Lúcia a
partir de 1935, em quatro manuscritos, habitualmente designados por
Memórias I, II, III e IV[2] e transcritos com outras fontes para
este artigo.
Aparições do Anjo
Antes das aparições
de Nossa Senhora na Cova da Iria em 1917, Lúcia, Francisco e Jacinta
tiveram no ano anterior três visões do Anjo, Anjo da Paz ou Anjo de
Portugal. Estas visões permaneceram inéditas até 1937, até Lúcia as
divulgar, pela primeira vez, no designado texto Memória II. A
narração é mais completa e o texto definitivo das orações do anjo é
publicado na Memória IV, escrito em 1941. As aparições do Anjo em
1916, foram precedidas por três outras visões, de Abril a Outubro de
1915, nas quais Lúcia e outras três pastorinhas, Maria Rosa Matias,
Teresa Matias e Maria Justino viram, também no outeiro do Cabeço, e
noutros locais, suspensa no ar sobre o arvoredo do vale "uma como
que nuvem mais branca que a neve, algo transparente, com forma
humana. Era uma figura, como se fosse uma estátua de neve, que os
raios do sol tornavam algo transparente". A descrição é da
própria irmã Lúcia.[3]
Primeira aparição
O relato da mais velha dos videntes, Lúcia, descreve assim os
acontecimentos: "Andava eu com os meus primos Francisco e Jacinta a
cuidar do rebanho e subimos a encosta em procura dum abrigo a que
chamávamos a "Loca do Cabeço". Depois de aí merendar e rezar, alguns
momentos havia que jogávamos e eis que um vento sacode as árvores e
faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia
estava sereno. Então começamos a ver, a alguma distância, sobre as
árvores que se estendiam em direção ao nascente, uma luz mais branca
que a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que
um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se
aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos
surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra. Ao chegar
junto de nós, disse: – Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai
comigo. E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão.
Levados por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as
palavras que lhe ouvimos pronunciar: – Meu
Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que
não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse: – Orai
assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas
súplicas. E desapareceu. A atmosfera do sobrenatural que nos
envolveu era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria
existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição
em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A
presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre
nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito
ainda envolvido por essa atmosfera que só muito lentamente foi
desaparecendo. Nesta aparição, nenhum pensou em falar nem em
recomendar o segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima que não era
fácil pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos, talvez, também
maior impressão, por ser a primeira assim manifesta."[4]
Segunda aparição
A segunda aparição
deu-se no Verão de 1916, sobre o poço da casa dos pais de Lúcia,
junto ao qual as crianças costumavam brincar. Assim narra a Irmã
Lúcia: "Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores
que cercavam o poço já várias vezes mencionado. De repente, vimos o
mesmo Anjo junto de nós. - Que fazeis? Orai! Orai muito! Os
Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios. –
Como nos havemos de sacrificar? – perguntei. – De tudo que
puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados
com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores.
Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua
guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com
submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar. E desapareceu.
Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz
que nos fazia compreender quem era Deus, como nos amava e queria ser
amado, o valor do sacrifício e como ele Lhe era agradável, como, por
atenção a ele, convertia os pecadores. Por isso, desde esse momento,
começamos a oferecer ao Senhor tudo que nos mortificava, mas sem
discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto
a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a
oração que o Anjo nos tinha ensinado."
Terceira aparição
A
terceira aparição ocorreu no fim do Verão ou princípio de Outono de
1916, novamente na "Loca do Cabeço", como descreve Lúcia: "Rezamos
aí o terço e (a) oração que na primeira aparição nos tinha ensinado.
Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão
um cálice e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálix,
algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no
ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração: –
Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos
profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e
Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra,
em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele
mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo
Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos
pobres pecadores. Depois,
levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a
Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao
Francisco, dizendo, ao mesmo tempo: – Tomai e bebei o Corpo e o
Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens
ingratos. Reparai os seus crimes e consolei o vosso Deus. De
novo se prostrou em terra e repetiu conosco mais três vezes a mesma
oração: – Santíssima Trindade… etc. E desapareceu. Levados pela
força do sobrenatural que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo,
isto é, prostrando-nos como Ele e repetindo as orações que Ele
dizia. A força da presença de Deus era tão intensa que nos
absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do
uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses
dias, fazíamos as ações materiais como que levados por esse mesmo
ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e felicidade que
sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a
alma em Deus. O abatimento físico, que nos prostrava, também era
grande."[5]
Aparições de
Nossa Senhora
13 de Maio de 1917
Brincavam os três pastorinhos na Cova da Iria, uma pequena
propriedade pertencente aos pais de Lúcia, localizada a 2,5 km de
Fátima, quando por volta do meio-dia e depois de rezarem o terço,
observaram dois clarões como se fossem relâmpagos. Com receio de
começar a chover, reuniram o rebanho e decidiram ir-se embora, mas
no caminho e logo abaixo, outro clarão teria iluminado o espaço.
Nesse instante, teriam visto em cima de uma pequena azinheira (onde
agora se encontra a Capelinha das Aparições), "era uma Senhora
vestida de branco e mais brilhante que o Sol, espargindo luz mais
clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina,
atravessado pelos raios do sol mais ardente", descreve Lúcia.
"A sua face, indescritivelmente bela não era nem triste, nem alegre,
mas séria, com ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar,
apoiadas no peito e voltadas para cima. Da mão direita pendia um
rosário. As vestes pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e
branco o manto, orlado de ouro que cobria a cabeça da Virgem e lhe
descia até aos pés. Não se Lhe viam os cabelos nem as orelhas."
Os traços da fisionomia Lúcia nunca pôde descrevê-los, pois a sua
formosura não cabe em palavras humanas. Os videntes estavam tão
pertos de Nossa Senhora - a um metro de distância, mais ou menos -
que ficavam dentro da luz que A cercava, ou que Ela espargia. O
colóquio inicia-se da seguinte maneira:
Nossa Senhora: - Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
Lúcia: - Donde é Vossemecê?
- Sou do Céu ( e Nossa Senhora
ergueu as mãos apontando o Céu).
- E que é que Vossemecê me quer?
- Vim para vos pedir que venhais aqui
seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi
quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
- E eu também vou para o Céu?
- Sim, vais.
- E a Jacinta? - Também.
- E o Francisco? - Também, mas
tem que rezar muitos terços.
- A Maria das Neves já está no
Céu? (Lúcia referia-se a uma mulher que tinha morrido recentemente)
- Sim, está.
- E a Amélia? - Estará no Purgatório
até ao fim do mundo. Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos
os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos
pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos
pecadores?
- Sim, queremos.
- Ides pois ter muito que sofrer, mas a
graça de Deus será o vosso conforto.
"Foi ao pronunciar estas últimas
palavras que abriu pela primeira vez as mãos comunicando-nos uma luz
muito intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrava
no peito e no mais intimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em
Deus, que era essa luz, mais claramente do que nos vemos no melhor
dos espelhos. Então, por um impulso intimo também comunicado, caímos
de joelhos e repetimos intimamente ó Santíssima Trindade, eu Vos
adoro, meu Deus meu Deus eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.
Passados estes momentos, Nossa Senhora
acrescentou:
- Rezem o terço todos os dias para
alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra (na altura
desenrolava-se a Primeira Guerra Mundial).
"Em seguida começou a elevar-se
serenamente em direção ao nascente até desaparecer na imensidade da
distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no
cerrado dos astros".[6]
13 de Junho de 1917
Neste dia compareceram no local cerca de 50 pessoas curiosas pelos
fatos entretanto revelados pelos pastorinhos. Por volta do meio-dia,
os videntes notaram novamente um clarão, a que chamavam relâmpago,
mas que não era propriamente tal, mas sim o reflexo de uma luz que
se aproximava. Alguns dos espectadores notaram que a luz do sol se
obscureceu durante os minutos que se seguiram ao início do colóquio,
outros afirmaram que o topo da azinheira, coberto de rebentos,
pareceu curvar-se como sob um peso, um momento antes da Lúcia falar.
Durante a troca de palavras entre Lúcia e a aparição alguns ouviram
um sussurro como se fosse o zumbido de uma abelha.
Lúcia: - Vossemecê que me quer?
Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui
no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que
aprendam a ler. Depois, direi o que quero.
Lúcia pediu a cura de um doente.
- Se se converter, curar-se-á durante o
ano.
- Queria pedir-Lhe para nos levar para
o Céu.
- Sim, a Jacinta e o Francisco
levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer
servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer
no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar,
prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores
postas por Mim a adornar o seu trono.
- Fico cá sózinha?
- Não, filha. E tu sofres muito? Não
desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o
teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
"Foi no momento que disse estas últimas
palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o
reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em
Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte dessa luz que
se elevava para o céu e eu na que se espargia sobre a terra. À
frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um coração
cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos
que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da
humanidade que queria reparação. Quando se desvaneceu esta visão, a
Senhora, envolta ainda na luz que d'Ela irradiava, elevou-se da
arvorezinha sem esforço, suavemente na direção do leste até
desaparecer de todo."
Algumas pessoas mais próximas notaram que os rebentos do topo da
azinheira estavam tombados na mesma direção, como se as vestes da
Senhora os tivessem arrastado. Só algumas horas mais tarde retomaram
a posição natural.[7]
13 de Julho de 1917
Lúcia dos Santos com os seus primos Francisco e Jacinta Marto.
Ao dar-se a terceira aparição, uma nuvenzinha acizentada pairou
sobre a azinheira, o sol ofuscou-se, uma aragem fresca soprou sobre
a serra, embora se estivesse em pleno Verão. O Sr. Manuel Marto, pai
da Jacinta e do Francisco, diz que também ouviu um sussurro, como o
de moscas num cântaro vazio. Os videntes viram o reflexo da
costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
Lúcia: - Vossemecê que me quer?
Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui
no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os
dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo
e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.
- Queria pedir-lhe para nos dizer quem
é; para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemeçê nos
aparece.
- Continuem a vir aqui todos os meses.
Em Outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre que todos
hão-de ver para acreditarem.
Lúcia apresenta então uma série de
pedidos de conversões, curas e outras graças. Nossa Senhora responde
recomendando sempre a prática do terço, que assim alcançariam as
graças durante o ano. Um dos pedidos foi a cura do filho paralítico
de Maria Carreira (que seria desde o início uma devota de Fátima).
Nossa Senhora respondeu que não o curaria nem o tiraria da sua
pobreza, mas que rezasse o terço todos os dias em família e
dar-lhe-ia os meios de ganhar a vida. Outro enfermo pedia para ir em
breve para o Céu. Nossa Senhora respondeu que não tivesse pressa,
que bem sabia quando o havia de vir buscar. Depois prosseguiu: -
Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial
quando fizerdes algum sacrifício: "ó Jesus, é por vosso amor, pela
conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos
contra o Imaculado Coração de Maria." "Ao dizer estas últimas
palavras, abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O
reflexo de luz que delas expediam pareceu penetrar a terra e
(primeira parte do segredo - "A
Visão do Inferno") mostrou-nos um
grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados
nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas
transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que
flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que d'elas mesmas saíam,
juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados,
semelhante ao cair das fagulhas em os grandes incêndios sem peso nem
equilíbrio, entre gritos e gemidos de dôr e desespero que
horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se
por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e
desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um
momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu que antes nos tinha
prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira
aparição), se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e
pavor. Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos
disse com bondade e tristeza: - Vistes o Inferno, para onde vão
as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, (segunda parte do
segredo - "O Imaculado Coração de Maria") Deus quer estabelecer no
mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser
salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas
se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará
outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz
desconhecida (os astrônomos registaram uma aurora boreal que
iluminou os céus da Europa na noite de 25 para 26 de Janeiro de
1938), sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir
o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de
perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a
consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão
reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos,
a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros
pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons
serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias
nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração
triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se
converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em
Portugal se conservará sempre o dogma da fé. "Então vimos (terceira
parte do segredo - "O atentado ao Papa") ao lado esquerdo de Nossa
Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo na mão
esquerda; ao cintilar, soltava chamas que pareciam incendiar o
mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita
expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O Anjo apontando com a mão
direita para a terra, com voz forte dizia: "Penitência, Penitência,
Penitência!" E vimos n'uma luz imensa que é Deus: "algo semelhante a
como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante"
um Bispo vestido de branco "tivemos o pressentimento de que era o
Santo Padre". Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e
religiosas subiam uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma
grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca;
o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia
em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e
pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo
caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da
grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam
vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás dos
outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias
pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e
posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com
um regador de cristal na mão, n'êles recolhiam o sangue dos Mártires
e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus."
Terminada esta visão, disse Nossa
Senhora: - Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis
dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério:
"Ó meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as
almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.
- Vossemecê não me quer
mais nada? - Não. Hoje não te quero mais nada. "E como de costume,
começou a elevar-Se em direção ao nascente, até desaparecer na
imensa distância do firmamento." Ouviu-se então um trovão, indicando
que a aparição cessara.[8][9]
19 de Agosto de 1917
No dia 13 de Agosto, quando deveria dar-se a quarta aparição, os
videntes não puderam ir à Cova da Iria, pois foram raptados pelo
administrador de Ourém, que à força quis arrancar-lhes o segredo. No
entanto, as crianças permaneceram inabaláveis e nada revelaram.
Nesse dia, juntou-se uma grande multidão que aguardava pela
aparição. Por volta do meio-dia, ouviu-se um trovão, ao qual se
seguiu o relâmpago, tendo os espectadores notado uma pequena nuvem
branca que pairou alguns minutos sobre a azinheira. Observaram-se
também fenômenos de coloração, de diversas cores, nos rostos das
pessoas, das roupas, das árvores e do chão.
No dia 19 de Agosto de 1917, Lúcia estava com Francisco e seu irmão
João no lugar dos Valinhos, uma propriedade de um dos seus tios e
que dista uns 500 metros de Aljustrel. Pelas 4 horas da tarde,
começaram a produzir-se as alterações atmosféricas que precederam as
aparições anteriores, uma súbita diminuição da temperatura e um
esmorecimento do Sol. Lúcia, sentindo que alguma coisa de
sobrenatural se aproximava e os envolvia, pediu ao primo João para
chamar rápidamente a Jacinta, a qual chegou a tempo de ver Nossa
Senhora que - anunciada, como das outras vezes, por um reflexo de
luz - apareceu sobre uma azinheira, um pouco maior que a da Cova da
Iria.
Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer?
Nossa Senhora: -Quero que continueis a
ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os
dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem.
- Que é que Vossemecê quer que se faça
ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?
- Façam dois andores, um leva-o tu com
a Jacinta e mais duas meninas; o outro que o leve o Francisco com
mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa
Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que
hão-de mandar fazer.
-Queria pedir-lhe a cura de alguns
doentes.
-Sim, alguns curarei durante o ano. E
tomando um aspeto mais triste, recomendou-lhes novamente a prática
da mortificação: - Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos
pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se
sacrifique e peça por elas. "
E, como de costume, começou a elevar-Se
em direção ao nascente." Os videntes cortaram ramos da árvore sobre
a qual Nossa Senhora lhes tinha aparecido e levaram-nos para casa.
Os ramos exalavam um perfume singularmente suave.[10]
13 de Setembro de 1917
Como das outras vezes, uma série de fenômenos atmosféricos foram
observados pelos circunstantes, cujo número foi calculado entre 15 e
20 000 pessoas: o súbito refrescar da atmosfera, o empalidecer do
Sol até ao ponto de se verem as estrelas, uma espécie de chuva como
que de pétalas irisadas ou flocos de neve que desapareciam antes de
pousarem na terra. Em particular, foi notado desta vez um globo
luminoso que se movia lenta e majestosamente pelo céu, do nascente
para o poente e, no fim da aparição, em sentido contrário. Os
videntes notaram, como de costume, o reflexo de uma luz e, a seguir,
Nossa Senhora sobre a azinheira.
Nossa Senhora: - Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da
guerra. Em Outubro, virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das
Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o
Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer
que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia (as crianças
tinham passado a usar como cilício uma corda grossa que não tiravam
sequer para dormir; isso impedia-lhes muitas vezes o sono e passavam
noites inteiras em branco, daí o elogio e a recomendação de Nossa
Senhora).
Lúcia: - Têm-me pedido para Lhe
pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, de um surdo-mudo.
- Sim, alguns curarei. Outros não. Em
Outubro farei o milagre para que todos acreditem. "E começando a
elevar-Se, desapareceu como de costume."[11]
13 de Outubro de 1917
De acordo com os relatos da época, milhares de pessoas assistiram a
um Milagre do Sol, em Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917
Devido ao fato de os pastorinhos terem revelado que a Virgem Maria
iria fazer um milagre neste dia para que todos acreditassem, estavam
presentes na Cova da Iria cerca de 50 mil pessoas, segundo os
relatos da época. Chovia com abundância e a multidão aguardava as
três crianças nos terrenos enlameados da serra. Lúcia assim descreve
estes acontecimentos na Memória IV: "Saímos de casa bastante cedo,
contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva,
torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último dia da
minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria
acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês
passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos
impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e
suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada
por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os
guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo
da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer?
Nossa Senhora: – Quero dizer-te que
façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário,
que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai
acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.
- Eu tinha muitas coisas para Lhe
pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
- Uns, sim; outros, não. É preciso que
se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. E tomando um aspecto
mais triste: – Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está
muito ofendido. E abrindo as mãos, fê-las refletir no sol. E
enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a
projetar no sol."
Foto tirada na Cova
da Iria e publicada num jornal português em 29 de Outubro de 1917.
Neste momento, Lúcia diz para a multidão olhar para o sol, levada
por um movimento interior que a isso a impeliu. "Desaparecida Nossa
Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol,
S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto
azul." Era a Sagrada Família. "S. José com o Menino pareciam
abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de
cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor
acabrunhado de dor a caminho do Calvário e Nossa Senhora que me dava
a idéia de ser Nossa Senhora das Dores." Lúcia via apenas a parte
superior do corpo de Nosso Senhor e Nossa Senhora não tinha a espada
no peito. "Nosso Senhor parecia abençoar o Mundo da mesma forma que
S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa
Senhora, em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo, com o Menino
Jesus ao colo."
Enquanto os três
pastorinhos eram agraciados com estas visões (apenas Lúcia viu os
três quadros, Jacinta e Francisco viram somente o primeiro), a maior
parte da multidão presente observou o chamado O Milagre do Sol. A
chuva que caía cessou, as nuvens entreabriram-se deixando ver o Sol,
assemelhando-se a um disco de prata fosca, podia fitar-se sem
dificuldade sem cegar. A imensa bola começou a girar
vertiginosamente sobre si mesma como uma roda de fogo. Depois, os
seus bordos tornaram-se escarlates e deslizou no céu, como um
redemoinho, espargindo chamas vermelhas de fogo. Essa luz
refletia-se no solo, nas árvores, nas próprias faces das pessoas e
nas roupas, tomando tonalidades brilhantes e diferentes cores.
Animado três vezes por um movimento louco, o globo de fogo pareceu
tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão
aterrorizada. Tudo durou uns dez minutos. Finalmente, o sol voltou
em ziguezague para o seu lugar e ficou novamente tranquilo e
brilhante. Muitas pessoas notaram que as suas roupas, ensopadas pela
chuva, tinham secado subitamente. Tal fenômeno foi testemunhado por
milhares de pessoas, até mesmo por outras que estavam a quilômetros
do lugar das aparições. O relato foi publicado na imprensa por
diversos jornalistas que ali se deslocaram e que foram também eles,
testemunhas do milagre.
O ciclo das aparições em Fátima tinha terminado.[12]
Aparições particulares a Jacinta
Jacinta Marto, em 1917.
* Jacinta vê o Santo Padre - Lúcia assim relata na sua Terceira
Memória: "Um dia, fomos passar as horas da sesta para junto do poço
de meus pais. A Jacinta sentou-se nas lajes do poço; o Francisco,
comigo, foi procurar o mel silvestre nas silvas dum silvado duma
ribanceira que aí havia. Passado um pouco de tempo, a Jacinta chama
por mim: – Não viste o Santo Padre? – Não! – Não sei como foi! Eu vi
o Santo Padre em uma casa muito grande, de joelhos, diante de uma
mesa, com as mãos na cara, a chorar. Fora da casa estava muita gente
e uns atiravam-Ihe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe
muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir
muito por Ele. Em outra ocasião, fomos para a Lapa do Cabeço.
Chegados aí, prostrámo-nos por terra, a rezar as orações do Anjo.
Passado algum tempo, a Jacinta ergue-se e chama por mim: – Não vês
tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar
com fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre em uma Igreja,
diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar
com Ele?
* Visões da guerra - "Um dia fui a sua casa, para estar um pouco com
ela. Encontrei-a sentada na cama, muito pensativa. – Jacinta, que
estás a pensar? – Na guerra que há-de vir. Há-de morrer tanta gente!
E vai quase toda para o inferno! Hão-de ser arrasadas muitas casas e
mortos muitos Padres (tratava-se da Segunda Guerra Mundial). Olha:
eu vou para o Céu. E tu, quando vires, de noite, essa luz que aquela
Senhora disse que vem antes, foge para lá também! – Não vês que para
o Céu não se pode fugir? – É verdade! Não podes. Mas não tenhas
medo! Eu, no Céu, hei-de pedir muito por ti, por o Santo Padre, por
Portugal, para que a guerra não venha para cá, e por todos os
Sacerdotes.
* Visitas de Nossa Senhora - A 23 de Dezembro de 1918, Francisco e
Jacinta adoeceram ao mesmo tempo. Indo visitá-los, Lúcia encontrou
Jacinta no auge da alegria. Na sua Primeira Memória, Lúcia conta:
"Um dia mandou-me chamar: que fosse junto dela depressa. Lá fui,
correndo. – Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o
Francisco muito breve para o Céu. E a mim perguntou-me se queria
ainda converter mais pecadores. Disse-Lhe que sim. Disse-me que ia
para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão
dos pecadores, em reparação dos pecados contra o Imaculado Coração
de Maria e por amor de Jesus. Perguntei se tu ias comigo. Disse que
não. Isto é o que me custa mais. Disse que ia minha mãe levar-me e,
depois, fico lá sozinha! Em fins de Dezembro de 1919, de novo a
Santíssima Virgem se dignou visitar a Jacinta, para Ihe anunciar
novas cruzes e sacrifícios. Deu-me a notícia e dizia-me: – Disse-me
que vou para Lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver,
nem os meus pais; que, depois de sofrer muito, morro sozinha, mas
que não tenha medo; que me vai lá Ela buscar para o Céu. Durante a
sua permanência de 18 dias no hospital em Lisboa, Jacinta foi
favorecida com novas visitas de Nossa Senhora, que lhe anunciou o
dia e a hora em que haveria de morrer. Quatro dias antes de a levar
para o Céu, a Santíssima Virgem tirou-lhe todas as dôres. Nas
vésperas da sua morte, alguém lhe perguntou se queria ver a mãe, ao
que ela respondeu: - A minha família durará pouco tempo e em breve
se encontrarão no Céu… Nossa Senhora aparecerá outra vez, mas não a
mim, porque com certeza morro, como Ela me disse".[13]
Aparições particulares a Lúcia
* 10 de Dezembro de 1925 - Encontrando-se Lúcia na sua cela, na Casa
das Religiosas Doroteias em Pontevedra, apareceu-lhe a SS. Virgem e,
ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem,
pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que
tinha na outra mão, cercado de espinhos. Ao mesmo tempo, disse o
Menino: – Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de
espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem
haver quem faça um acto de reparação para os tirar. Em seguida,
disse a SS. Virgem: – Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de
espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com
blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que
todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem,
recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15
minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o
fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte,
com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.
* 15 de Fevereiro de 1926 - Neste dia encontrava-se Lúcia no pátio
que dá para a rua da mesma Casa das Religiosas Doroteias.
Apareceu-lhe, de novo, o Menino Jesus. Perguntou se já tinha
espalhado a devoção a Sua SS. Mãe. A vidente expôs-Lhe as
dificuldades apresentadas pelo seu confessor e que a Madre Superiora
estava pronta a propagá-la, mas que o confessor tinha dito que ela,
só, nada podia. Jesus respondeu: – É verdade que a tua Superiora, só
nada pode; mas, com a Minha graça, pode tudo. Lúcia apresentou a
Jesus a dificuldade que tinham algumas pessoas em se confessar ao
sábado e pediu para ser válida a confissão de oito dias. Jesus
respondeu: – Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que,
quando Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de
desagravar o Imaculado Coração de Maria. Ela perguntou: – Meu Jesus,
as que se esquecerem de formar essa intenção?. Jesus respondeu: –
Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a primeira
ocasião que tiverem de se confessar.
* 13 de Junho de 1929 - Lúcia assim relata esta aparição: "Eu tinha
pedido e obtido licença das minhas superioras e confessor para fazer
a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras.
Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da
capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo. Sentindo-me cansada,
ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz
era a da lâmpada. De repente iluminou-se toda a Capela com uma luz
sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava
até ao tecto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da
cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma
pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um
pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia
grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas
faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela
Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix. Sob o braço direito da
cruz estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com o Seu
Imaculado Coração na mão esquerda, sem espada nem rosas, mas com uma
Coroa de espinhos e chamas). Sob o braço esquerdo, umas letras
grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do
Altar, formavam estas palavras: «Graça e Misericórdia». Compreendi
que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes
sobre este mistério que não me é permitido revelar. Depois Nossa
Senhora disse-me: – É chegado o momento em que Deus pede para o
Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do Mundo, a
Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la
por este meio. São tantas as almas que a justiça de Deus condena por
pecados contra Mim cometidos que venho pedir reparação: sacrifica-te
por esta intenção e ora. Dei conta disto ao confessor que me mandou
escrever o que Nossa Senhora queria se fizesse. Mais tarde, por meio
duma comunicação íntima, Nossa Senhora disse-me, queixando-se: – Não
quiseram atender ao Meu pedido!… Como o rei de França,
arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já
espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições
à igreja: O Santo Padre terá muito que sofrer.
Eventos históricos
Apresenta-se a seguir uma cronologia de alguns eventos históricos
relacionados com a mensagem e as aparições de Fátima:
* 28 de Março de 1907 - Nasce Lúcia de Jesus dos Santos, em
Aljustrel, Fátima.
* 11 de Junho de 1908 - Nasce Francisco de Jesus Marto, em Aljustrel,
Fátima.
* 11 de Março de 1910 - Nasce Jacinta de Jesus Marto, em Aljustrel,
Fátima.
* 28 de Julho de 1914 - Início da Primeira guerra mundial.
* 23 de Fevereiro de 1917- A Revolução Russa tem início. O Czar é
deposto e um Governo Provisório é implantado. A 25 de Outubro
bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, assumem o poder.
* 11 de Novembro de 1918 - Fim da Primeira guerra mundial.
* 23 de Dezembro de 1918 - Francisco e Jacinta Marto adoecem,
vítimas de pneumónica.
* 4 de Abril de 1919 - Morre Francisco Marto, na casa da sua familia,
em Aljustrel. É sepultado no cemitério de Fátima.
* 28 de Abril de 1919 - Início da construção da Capelinha das
Aparições.
* 21 de Janeiro de 1920 - Jacinta Marto é levada para Lisboa, onde
fica internada no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, na Rua da
Estrela, nº17. No dia 2 de Fevereiro de 1920 muda para o Hospital de
Dona Estefânia.
* 20 de Fevereiro de 1920 - Morre Jacinta Marto, no Hospital de Dona
Estefânia, em Lisboa. É sepultada no cemitério de Vila Nova de Ourém,
no jazigo da família do Barão de Alvaiázere.
* 17 de Junho de 1921 - Lúcia dá entrada como aluna interna, no
colégio das Irmãs Doroteias em Vilar, Porto.
* 13 de Outubro de 1921 - É permitida a celebração da Missa, pela
primeira vez, junto à Capelinha das Aparições.
* 6 de Março de 1922 - A Capelinha das Aparições é parcialmente
destruída por uma bomba, sendo restaurada um ano depois.
* 3 de Maio de 1922 - Provisão do Bispo de Leiria manda instaurar o
processo canónico sobre os acontecimentos de Fátima.
* 25 de Outubro de 1925 - Lúcia viaja para Espanha e é admitida como
postulante de noviciado no Convento das Doroteias, em Tui.
* 10 de Dezembro de 1925 - Nossa Senhora pede a Lúcia, numa visão em
Tui, a divulgação da prática e da comunhão reparadora nos primeiros
sábados.
* 15 de Fevereiro de 1926 - Lúcia tem uma visão de Jesus onde Ele
lhe pergunta se tem espalhado a devoção dos primeiros sábados.
* 26 de Junho de 1927 - O Bispo de Leiria preside, pela primeira
vez, uma cerimónia oficial na Cova da Iria.
* 13 de Maio de 1928 - Lançamento da primeira pedra para a
construção da Basílica.
* 13 de Junho de 1929 - Nossa Senhora pede a Lúcia, noutra visão em
Tui, a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração.
* 13 de Outubro de 1930 - O bispo de Leiria, D. José Alves Correia
da Silva, torna público, oficialmente, que as aparições de Fátima
são dignas de crédito pela Igreja Católica.
* 13 de Maio de 1931 - Primeira Consagração de Portugal ao Imaculado
Coração de Maria, feita pelo Episcopado Português, no seguimento da
Mensagem de Fátima.
* 12 de Setembro de 1935 - Os restos mortais de Jacinta Marto são
trasladados para o cemitério de Fátima, data em que a urna foi
aberta e revelado o seu corpo incorrupto.
* 25 de Janeiro de 1938 - Extraordinária aurora boreal, registada
por astrónomos na noite de 25 para 26 de Janeiro. (Lúcia sempre
insistiu que este seria o sinal de Deus para o começo da guerra,
conforme Nossa Senhora havia comunicado aos pastorinhos na terceira
aparição.)
* 12 de Março de 1938 - Tropas nazistas marcham até Austria para
anexá-la à Alemanha do Terceiro Reich. (Segundo o testemunho da Irmã
Lúcia (carta de 8 de Novembro de 1989 para o Santo Padre), este
acontecimento teria sido o verdadeiro início da Segunda guerra
mundial, ocorrendo durante o pontificado do Papa Pio Xl (1922-1939),
confirmando assim a mensagem de Nossa Senhora de 13 de Julho de
1917.)
* 13 de Maio de 1942 - Grande peregrinação comemora o 25º
aniversário das Aparições.
* 31 de Outubro de 1942 - Por ocasião do encerramento do ano jubilar
das aparições, o Papa Pio XII através de uma mensagem rádio a
Portugal, consagra a Igreja e o género humano ao Imaculado Coração
de Maria.
* 15 de Agosto de 1945 - Fim da Segunda guerra mundial.
* 13 de Maio de 1946 - O Cardeal Bento Aloisi Masella, legado
pontifício, coroa solenemente a imagem de Nossa Senhora de Fátima.
* 20 de Maio de 1946 - A vidente Lúcia faz em Fátima, a
identificação dos lugares históricos das aparições.
* 25 de Março de 1948 - Lúcia retorna a Portugal para ingressar no
Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, com o nome de Irmã Maria Lúcia
do Coração Imaculado.
* 1 de Maio de 1951 - Os restos mortais de Jacinta são trasladados
para a Basílica de Fátima.
* 13 de Março de 1952 - Os restos mortais de Francisco são
trasladados para a Basílica de Fátima. É sepultado junto de sua irmã
Jacinta.
* 7 de Julho de 1952 - O Papa Pio XII, por meio de uma Carta
Apostólica, consagra os povos da Rússia ao Puríssimo Coração de
Maria.
* 13 de Agosto de 1961 - Inicia-se a construção do Muro de Berlim.
* 21 de Novembro de 1964 - O Papa Paulo VI, ao encerrar a III Sessão
do Concílio Vaticano II, confia o género humano ao Imaculado Coração
de Maria e proclama Nossa Senhora Matter Ecclesiae. Concede a "Rosa
de Ouro" ao Santuário de Fátima que é entregue a 13 de Maio do ano
seguinte pelo Cardeal Fernando Cento, legado Pontifício.
* 13 de Maio de 1967 - O Papa Paulo VI desloca-se a Fátima, no
cinquentenário da 1ª Aparição de Nossa Senhora, para pedir a paz no
mundo e a unidade da Igreja.
* 13 de Maio de 1977 - A Peregrinação do 60º aniversário da 1ª
Aparição é presidida pelo Cardeal Humberto Medeiros, Arcebispo de
Boston, legado Pontifício.
* 13 de Maio de 1981 - O Papa João Paulo II sofre um atentado na
Praça de São Pedro, no Vaticano.
* 13 de Maio de 1982 - O Papa João Paulo II visita pela primeira vez
o Santuário de Nossa Senhora de Fátima para agradecer à Virgem ter
escapado com vida do atentado que havia sofrido um ano antes. O
Santo Padre ofereceu uma das balas que o atingiu ao Santuário. Essa
bala foi posteriormente colocada na coroa da Virgem, onde permanece
até hoje. De joelhos, consagra a Igreja, os Homens e os Povos, com
menção velada da Rússia, ao Imaculado Coração de Maria.
* 25 de Março de 1984 - O Papa João Paulo II, em união com os Bispos
do mundo inteiro, faz na Praça de S. Pedro, no Vaticano, a
Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, diante da imagem
da Virgem de Fátima, que propositadamente viajou desde a Capelinha
das Aparições. (Mais tarde, a Irmã Lúcia confirma que este acto
solene e universal de consagração, feito nessa data, corresponderia
ao que Nossa Senhora queria (carta de 8 de Novembro de 1989 para o
Santo Padre)).
* 13 de Maio de 1989 - O Papa João Paulo II publica o decreto que
proclama a heroicidade das virtudes dos videntes Francisco e Jacinta
Marto.
* 9 de Novembro de 1989 - Cai o Muro de Berlim, acto inicial da
reunificação das duas Alemanhas, (RFA e RDA), acabando também com a
Cortina de Ferro. Muitos apontam este momento também como o fim da
Guerra Fria. (Um pedaço do Muro foi oferecido mais tarde ao
Santuário de Fátima onde se encontra exposto.)
* 13 de Maio de 1991 - O Papa João Paulo II visita Fátima pela
segunda vez, no 10º aniversário do seu atentado na Praça de S.
Pedro. Novamente, faz a consagração do mundo ao Imaculado Coração de
Maria.
* 25 de Dezembro de 1991 - Gorbachev anuncia o fim da URSS,
renunciando ao cargo de Presidente Executivo da União Soviética.
Mais tarde muitas igrejas foram devolvidas aos ortodoxos, incluindo
o Mosteiro de São Daniel, onde está hoje a sede do patriarcado da
Igreja Ortodoxa russa. Actualmente, a Federação da Rússia permite a
multiconfessão religiosa.
* 13 de Maio de 2000 - O Papa João Paulo II visita Fátima pela
última vez para a beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta
Marto. Aí se encontra pela última vez com a Irmã Lúcia. O Cardeal
Ângelo Sodano, no final da solene Concelebração Eucarística
presidida por João Paulo II, anuncia o Terceiro Segredo de Fátima.
* 13 de Fevereiro de 2005 - Morre no Carmelo de Coimbra a Irmã Lúcia
do Coração Imaculado, da Ordem das Carmelitas Descalças.
* 2 de Abril de 2005 - Morre João Paulo II.
* 13 de Maio de 2005 - O Papa Bento XVI faz uma exceção à regra do
Código de Direito Canónico e dá instruções para o início do processo
de beatificação de João Paulo II.
* 19 de Fevereiro de 2006 - Os restos mortais de Lúcia são
trasladados para a Basílica de Fátima onde é sepultada junto dos
seus primos, Francisco e Jacinta.
* 14 de Fevereiro de 2008 - O Cardeal José Saraiva Martins, prefeito
da Congregação para as Causas dos Santos, por ocasião do aniversário
da morte de Lúcia, torna público em Coimbra que o Papa Bento XVI
autorizou, excepcionando as normas do Direito Canônico, o início da
fase diocesana da causa da sua beatificação, transcorridos apenas
três anos da sua morte.
* 13 de Outubro de 2008 - Celebrando o 90.º aniversário das
Aparições, é inaugurada a Igreja da Santíssima Trindade pelo
Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone,
assistindo ao acto o Presidente da República, Cavaco Silva e o
Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.
Notas e referências
1. ↑ António Augusto Borelli Machado, As aparições e a mensagem de
Fátima nos manuscritos da Irmã Lúcia, 23ª edição, Maio de 1998,
Depósito Legal nº123 914, ISBN 972-95919-0-3 (página 35)
2. ↑ Idem (página 25)
3. ↑ Idem (páginas 29 e 33)
4. ↑ Idem (páginas 29 a 30)
5. ↑ Idem (página 31 a 33)
6. ↑ Idem (páginas 35 a 38)
7. ↑ Idem (páginas 38 a 40)
8. ↑ Idem (páginas 42 a 46)
9. ↑ O Terceiro Segredo e sua interpretação firmada pelo Vaticano
10. ↑ António Augusto Borelli Machado, As aparições e a mensagem de
Fátima nos manuscritos da Irmã Lúcia, 23ª edição, Maio de 1998,
Depósito Legal nº123 914, ISBN 972-95919-0-3 (páginas 49-50)
11. ↑ Idem (páginas 52 a 53)
12. ↑ Idem (páginas 53 a 55)
13. ↑ Idem (páginas 59 a 66)
* Memórias e cartas da Irmã Lúcia - Introdução e notas pelo Padre
Dr. António Maria Martins, S.J. Composição e impressão de Simão
Guimarães, Filhos, Lda. Depositários L.E.- Porto, Portugal, 1973.
* Era uma Senhora mais brilhante que o Sol - Padre João M. de Marchi,
I.M.C.. Seminário das missões de Nª Srª de Fátima, Cova da Iria,
Portugal, 3ª edição, 1948.
* Nossa Senhora de Fátima - William Thomas Walsh. Edições
Melhoramentos, São Paulo, 2ª edição, 1949.
* Nossa Senhora de Fátima - Padre Luis Gonzaga Ayres da Fonseca,
S.J.. Editora Vozes, Petrópolis, Brasil, 5ª edição, 1954.
* História das Aparições - Cónego José Galamba de Oliveira.
Ocidental Editora, Porto, Portugal, 1954, in Fátima, altar do mundo
Vol. II, pp. 21-160
* A consagração pela Igreja do culto de Nossa Senhora de Fátima - D.
Frei Francisco Rendeiro, O.P.. Ocidental Editora, Porto, Portugal,
1954, in Fátima, altar do mundo Vol. II, pp. 163-198.
* As grandes jornadas de Fátima - Padre Moreira das Neves. Ocidental
Editora, Porto, Portugal, 1954, in Fátima, altar do mundo Vol. II,
pp. 205-303.
* Meditações dos primeiros Sábados - Padre António de Almeida
Fazenda, S.J.. Mensageiro do Coração de Jesus, Braga, Portugal, 2ª
edição, 1953.
* Fátima, onde o céu tocou a terra - Padre Luiz Gonzaga Mariz, S.J..
Editora Mensageiro da Fé, Lda., Salvador, Brasil, 2ª edição, 1954.
* Síntese crítica de Fátima-Incidências e repercussões - Cónego
Sebastião Martins dos Reis. Edição do Autor, Évora, Portugal, 1967.
* A vidente de Fátima dialoga e responde pelas Aparições - Cónego
Sebastião Martins dos Reis. Tipografia Editorial Franciscana, Braga,
Portugal, 1970.
* Memórias - Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, 13ª
edição, Secretariado dos Pastorinhos, Outubro de 2007 - ISBN 978 972
8524 18 0.
Últimos momentos da Irmã Lúcia (de Fátima) narrados por
sua superiora do Carmelo
Irmã Maria Celina de Jesus
Crucificado, do convento de Coimbra
COIMBRA/ROMA,
segunda-feira, 24 de setembro de 2007 (ZENIT.org).-
No Carmelo de Coimbra (Portugal), a Irmã Lúcia
sempre ocupou a mesma cela, e «desde lá voltou ao
céu», escreveu em sua memória sua superiora, Irmã
Maria Celina de Jesus Crucificado.
Na sexta-feira passada, em Roma, os numerosos
convidados à apresentação do livro «L’última
veggente di Fátima – I miei colloqui com Suor Lucia»
(«A última vidente de Fátima – Minhas conversas com
a Irmã Lúcia») – do cardeal Tarcisio Bertone, com o
jornalista Giuseppe De Carli; editado por RAI Eri –
Rizzoli – puderam presenciar, em exclusivo, a
projeção de uma vídeoreportagem sobre o convento de
Coimbra onde a religiosa morou.
Ela ingressou nele em 1941. Desde 1950 passou a
fazer parte estavelmente da comunidade, tendo feito
sua profissão em 13 de maio do ano anterior. Tomou o
nome de Irmã Maria de Jesus e do Coração Imaculado.
Na clausura, ela teve diferentes tarefas.
Realizada por Elena Balestri e De Carli, a
reportagem televisiva vai mostrando os cenários que
tantas vezes os olhos da vidente de Fátima
percorreram, e relata que amava rezar o rosário, e
que trabalhou até que os dedos, deformados pela
artrose, já não lhe permitiram mais.
Para milhões de devotos de Fátima, os lugares onde a
Irmã Lúcia passou quase 57 anos «são misteriosos; na
televisão – comentam os realizadores – vimos a
vidente de Fátima por ocasião das peregrinações dos
Papas Paulo VI e João Paulo II, e sua última
aparição é de outubro de 2000, enquanto rezava desde
o coro do convento uma dezena do terço em conexão
com a Praça de São Pedro».
Daí o caráter certamente excepcional da filmagem
que, em julho passado, «graças à Santa Sé, uma
equipe realizou no convento de Coimbra», observam.
O convento, o claustro, o jardim, a imagem da Virgem
a cujos pés se sentava, um passeio ao qual se assoma
a cela da Irmã Lúcia. O espectador pode contemplar
estes lugares. A comunidade religiosa decidiu deixar
a cela da Irmã Lúcia aberta, como se estivesse
presente. Na porta fica a inscrição: «Coração
Imaculado de Maria. Meu Coração Imaculado será teu
refúgio».
No interior do quarto se conserva o leito onde ela
morreu, com uma fotografia que a mostra abraçada à
superiora. Sustenta em sua mão a mensagem de João
Paulo II, de consolo e de proximidade espiritual em
sua enfermidade; também se vê um cordeirinho de
pelúcia, presente de um sacerdote italiano.
Completam a cela imagens dos três pastorinhos e da
Virgem, a cadeira de rodas, um simplíssimo
escritório com os dicionários que consultava
diariamente enquanto escrevia, um rosário, um
alto-falante, graças ao qual acompanhava a missa e
os momentos de oração comunitária.
Superiora de Irmã Lúcia durante seis anos – a última
por ordem de tempo –, a Irmã Maria Celina recebeu a
equipe televisiva, junto à Irmã Maria do Carmo, irmã
de comunidade da vidente de Fátima durante 52 anos.
De fato, esta acompanhou a Irmã Lúcia a Fátima em 13
de fevereiro de 2000, por ocasião da beatificação de
seus primos Jacinta e Francisco, uma celebração que
João Paulo II presidiu.
Das conversas com as duas religiosas anfitriãs se
desprende, na reportagem, a vida de recolhimento da
Irmã Lúcia, de solidão e silêncio, afastada da
curiosidade das pessoas: «no exterior, como todas,
no interior como nenhuma».
«Quando ingressei, demorei oito dias em reconhecer a
Irmã Lúcia» – recorda a Irmã Maria do Carmo. «Uma
irmã me disse: ‘Madre, a senhora quer que eu lhe
leve um pedaço de pão para comer à noite?’. E eu
pensei que, com certeza, não podia ser ela. No
entanto, era ela mesma.»
Os realizadores da reportagem recordam que um dos
últimos pensamentos da Irmã Lúcia foi para o Santo
Padre, que em Roma estava internado na Policlínica
Gemelli; a vidente ofereceu seus sofrimentos por
ele.
Oferecemos a tradução do diálogo mantido na
reportagem com a superiora da irmã Lúcia.
–A Irmã Lúcia viu Nossa Senhora mais vezes?
–Irmã Maria Celina: Ela não falava facilmente disso.
Nos últimos anos, no entanto, relatava a
extraordinária experiência de 1917. Mas não dizia
«eu», mas «os pastorinhos»: referia-se sempre a
eles. A imagem de Nossa Senhora não era como ela a
desejava. Às vezes lhe parecia feia, não
correspondia à precisão de sua lembrança, não era a
que o artista havia feito a partir de sua descrição.
É um pouco o que ocorreu a Santa Bernadette.
–E a quem falava de um quarto segredo, de um
segredo não revelado, o que a Irmã Lúcia respondia?
–Irmã Maria Celina: Que nunca estão satisfeitos; que
cumpram o que a Virgem pediu, que é o mais
importante. Quando alguém observava: «Irmã Lúcia,
dizem que existe outro segredo...», ela olhava
ironicamente. «Se existe – rebatia – que me contem.
Eu não conheço outros.»
–Como era a Irmã Lúcia como religiosa?
–Irmã Maria Celina: Era uma pessoa que emanava
alegria. Vivi com ela 28 anos e notei que era uma
pessoa que quanto mais avançava em idade, mais
reencontrava uma infância evangélica. Parecia de
novo a menina que na gruta de Iria havia tido as
aparições. Quanto mais pesado se tornava o corpo,
mais leve se tornava o espírito.
–Ela foi se apagando pouco a pouco, quase
docemente?
–Irmã Maria Celina: Quando ela precisou de ajuda,
pusemos sua cama no centro da cela e todas nós ao
redor, junto ao bispo de Leiria-Fátima. Eu estava de
joelhos junto a ela. A Irmã Lúcia olhou a todas e me
olhou por último. Foi um olhar longo, mas havia em
seus olhos uma luz profunda que levo em minha alma.
–Você ainda a sente próxima?
–Irmã Maria Celina: Rezo a ela sempre e sei que ela
intercede por nós. Há coisas que não precisam de
palavras: basta um gesto, um pensamento. Antes, a
Irmã Lúcia tinha problemas auditivos. Agora já não.
Agora entende tudo, até sem palavras.
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O 13º DIA
Filme sobre as Aparições de
Nossa Senhora em Fátima
Visit Ave Luz
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