A imagem é tão pequena, que nem parecia ocupar espaço na
mão do sacerdote que a segurava ao meu lado. Mede apenas
2,0 x 2,5 cm. Ele a tinha retirado do relicário onde se
encontrava, o qual estava dentro de outro maior. Havia
uma lupa para se poder ver bem a imagem - gravada sobre
um material ovalado em dimensões diminutas - de tal
forma ela é pequena. Pequena pelo tamanho, mas imensa
pela misericórdia que representa.
Com efeito, a imagem de Nossa Senhora de Coromoto¹ é a
padroeira da Venezuela, e sua história é singular. No
ano de 1652, a Virgem Santíssima apareceu ao cacique dos
índios Coromoto, que circulavam nas terras perto da
atual cidade de Guanare, e lhe disse para ir à região
onde se encontravam os brancos, que jogariam água em sua
cabeça, a fim de ele poder ir ao Céu, numa alusão
claríssima ao batismo.
Mas o batismo requer uma série de
disposições morais, uma mudança de
vida para se cumprir todos os
mandamentos da Lei de Deus.
Nesse
ponto começaram os problemas, pois o
cacique Coromoto, depois de um
momento inicial de fervor, não
queria abandonar os vícios que
lamentavelmente caracterizavam
tantas tribos da região.
Foto
- Relicário que encerra a miraculosa
padroeira da Venezuela
Acostumado a uma vida nômade, sem
mais regras do que a lei do mais
forte, era óbvio que para ele as
leis da moral católica pesavam
muito; em determinado momento
decidiu fugir e voltar para a selva,
recobrando sua “liberdade”, sem ser
batizado. Pior ainda, levando
consigo os membros de sua tribo.
O espetacular milagre
Tamanho
real da imagem de Nossa Senhora de
Coromoto
Há casos na história das missões dos
padres capuchinhos, na Venezuela, em
que os índios fugiam das aldeias,
porque não queriam viver num local
onde “há um Deus que tudo vê e tudo
sabe”.
E o cacique dos Coromoto decidiu, de
forma igualmente simplista, que sua
fuga resolveria o caso. Mas Nossa
Senhora, sendo Mãe de misericórdia,
apareceu-lhe na sua cabana, onde se
encontravam também sua mulher e a
irmã dela com um filho. Ao ver Nossa
Senhora, o índio revoltou-se contra
Ela, queixando-se de que, por culpa
d’Ela, agora precisava trabalhar.
No auge de sua raiva, quis matá-la,
mas estava tão perto d’Ela que, não
conseguindo puxar seu arco para
lançar a flecha, decidiu jogar-se
contra a Mãe de Deus. E nesse
momento produziu-se o milagre: a
Virgem desapareceu, mas deixou na
mão do índio o material no qual
estava gravada sua imagem.
Em sua confusão e limitação mental,
incapaz de ver os limites entre
realidade e fantasia, julgou que
mantinha presa na mão a própria
Virgem; escondeu na cabana a
imagenzinha, para depois queimá-la.
Mas seu sobrinho, presente na
cabana, pegou-a e levou-a aos
espanhóis, e desta forma a relíquia
chegou até nós.
O resto da história é conhecido:
após fugir para o mato, o cacique
foi mordido por uma cobra. Estava
para morrer, quando passou pelo
local um mestiço católico, que o
batizou no último momento,
salvando-o assim do castigo eterno.
A recente descoberta
Foto
- Especialistas trabalham na limpeza
da preciosa relíquia
A relíquia, peça central da
história, ficou durante 357 anos sem
uma restauração propriamente dita, o
que favoreceu sua deterioração,
contribuindo também para isso
guerras civis, revoluções, expulsão
de bispos, diminuição do fervor
religioso do próprio clero e
perseguições liberais do século XIX.
Mas a partir de 2002 os membros da
Fundação Maria Caminho a Jesus e o
reitor do Santuário Nacional de
Coromoto, Pe. José Manuel Brito,
iniciaram campanha pela restauração
da imagem, tendo conseguido os
fundos para tal.
Recentemente, durante a restauração,
especialistas descobriram na imagem
muitas características especiais,
algumas inexplicáveis. No dia 3 de
setembro de 2009, a Conferência
Episcopal da Venezuela emitiu um
comunicado, a partir do qual a
agência Zenit extraiu os seguintes
dados:
Foto
- O rosto de Nossa Senhora visto
através do microscópio
Ao longo do processo, descobriram-se
elementos desconhecidos. O primeiro
fato que chamou a atenção foi que o
pH das águas empregadas no
tratamento da relíquia mostrou-se
neutro, fato inexplicável.
Foi detectada nas roupas da imagem a
presença de vários símbolos, os
quais, segundo investigações do
antropólogo Nemesio Montiel, são de
origem indígena.
Por observação microscópica,
conseguiu-se identificar nos olhos
da Virgem, de menos de 1 milímetro,
a presença da íris, fato
particularmente desconcertante, pois
julgava-se que os olhos da imagem
eram simples pontos.
Ao aprofundar o estudo do olho
esquerdo, pôde-se definir que ele
apresenta as características de um
olho humano; diferenciam-se com
clareza o orbe ocular, o conduto
lacrimal, a íris e um pequeno ponto
de luz. Ampliando esse ponto de luz,
pôde-se observar que ele parece
formar uma figura humana com
características muito específicas. A
coroa da Virgem e do Menino Jesus
são tipicamente indígenas.
Uma grande esperança
O que pensar disto? Antes de tudo,
ficamos impressionados com o fato de
o olho esquerdo da imagem possuir
todos os elementos constitutivos do
olho humano, com tantos detalhes. Os
índios venezuelanos, diferentemente
dos astecas, incas e outros
indígenas com civilização avançada,
nada apresentaram em matéria de
pintura.
O simples fato de poderem pintar uma
imagem já seria objeto de surpresa e
admiração, ainda mais tendo-se em
vista que, no longínquo século XVII,
estaria fora de cogitação poderem
pintar detalhes só visíveis
modernamente, com a ajuda de
microscópios e outros instrumentos.
Assim como no caso de Nossa Senhora
de Guadalupe², a ciência moderna
veio confirmar que a tradição da
Igreja não é composta de meras
fábulas e contos para edificação de
pessoas simples.
Foto
- Nossa Senhora de Coromoto
A aparição de Nossa Senhora ao
cacique Coromoto, justamente naquele
momento, constituiu um claríssimo
sinal divino para o prosseguimento
do apostolado, apesar de todos os
obstáculos. Graças a essa aparição
mariana surgiu uma onda de missões,
que fundaram novas cidades, dobrando
o território civilizado do país.
Assim, é razão de esperança que uma
renovada devoção a Nossa Senhora de
Coromoto desperte a Venezuela do
letargo espiritual em que se
encontra, e que a salve, mesmo que
seja no último momento, dos abismos
a que a estão conduzindo os inimigos
da civilização cristã que atualmente
a governam.
Notas:
1. Leia mais sobre o tema em
Catolicismo, Setembro/1998.
2. Leia mais a respeito do assunto
em Catolicismo, Janeiro/2006.